segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Virginia Woolf, Professions for Women






"...descobri que...precisava travar uma batalha com um determinado fantasma. E o fantasma era uma mulher, e quando cheguei a conhecê-la melhor, passei a chamá-lo pelo nome de heroína de um famoso poema, O anjo da casa...Ela era intensamente simpática. Maravilhosamente encantadora. Totalmente abnegada. Ela se distinguia nas difíceis tarefas da vida em família. Se havia galinha, ela ficava com o pé, se havia uma corrente de ar, sentava-se bem ali. Em suma, sua constituição era tal, que ela nunca tinha um pensamento ou desejo próprio, preferindo antes apoiar os pensamentos e desejos dos outros. Acima de tudo, ela era, é desnecessário dizer, pura... E quando me punha a escrever, deparava-me com ela logo nas minhas primeiras palavras. A sombra de suas asas espalhava-se sobre a minha página. Eu ouvia o farfalhar de sua saia no quarto... Ela se aproximava furtivamente pelas minhas costas e sussurrava... Seja simpática, seja delicada, faça elogios, engane, lance mão de todas as artes e ardis do seu sexo. Nunca permita que alguém pense que você tem um pensamento próprio. Sobretudo, seja pura. E agia como se tivesse guiando a minha caneta. Relato agora a única ação que me levou a ter algum apreço por mim mesma... Voltei-me para ela e a agarrei pela garganta. Apertei com toda a minha força, até matá-la. Minha defesa, caso fosse levada a um tribunal, seria a de que agi em defesa própria. Se eu não a matasse, ela me mataria."

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