sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Retrato Natural - Cecília Meireles (1949)




Nasce da sombra o dançarino,

de um ovo de seda e mistério.

E seu perfil é transparente,

e sua carne é a de um inseto.


Eu o amo como às borboletas,

à asa das libélulas - e erro

no seu mundo sem solo, reino,

que se vai tornando sidéreo.


Suas tênues mãos nada tocam,

e olha entre verdes águas, cego.

Cada posição de seu corpo

é um símbolo instantâneo e hermético.


Toma nos lábios o silêncio

e é um peixe bebendo o mar, quieto.

Gira, e súbito se divide,
 
como espelho que cai de um prego.

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