terça-feira, 27 de março de 2012

Maria Francisca era o nome dela...

Maria Francisca era o nome dela...
                                     Joel La Banca       
                                   
Maria Francisca Greca...ao qual, mais tarde, foi acrescido um complemento espanhol, Canellas.
A união de Vincenzo Greca e Maria Rosa Naccarato Greca produziu sete rebentos, que vieram ao mundo de forma ordenada: Menina...menino...menina...menino...menina...menino...e a sétima derradeira, Maria Francisca, a Marieta.
Tendo sido a última, - e talvez por isso mesmo -, passou pela vida com a frenética urgência de quem se empenha em recuperar o tempo perdido...ou viver o máximo possível, no menor espaço de tempo!
Naquela época as ruas da cidade eram nomeadas de forma peculiar, geralmente acordes com a vocação do local.
Assim, pois, eram as ruas...das Flores, do Fogo, dos Alemães, do Comércio, da Ordem...e a rua do Matadouro Velho, onde uma casa trazia, estampada em ponto alto da fachada, duas iniciais, 18 VG 98. A habitá-la, a familia de Vincenzo Greca.
O habitual, então, era nascer em casa...e ali Marieta, madrugando, chegou às 3:00 horas da manhã, no dia 10 de março de 1903.
A irmã mais velha, contava 20 anos; o mais novo, apenas 2. Mas também os havia de 18, 17, 6 e 4. Não lhe faltou, portanto, no convívio fraternal, colo aconchegante ou parceiros para as brincadeiras. A faltar-lhe, sim, e muito cedo, a mãe Maria, que ao falecer, deixa a pequena Marieta com apenas 6 anos...
Dez anos decorrem, com a natural sucessão de eventos e a marcha da vida seguindo seu rumo. O pai que volta a se casar... o enlace do irmão Luiz seguido, de perto, pelo da irmã Emília. E Marieta, surpresa, dá-se conta de, também ela, haver sofrido transformações.
Uma década mudara a menina de tranças na exuberante adolescente Marieta que, aos dezesseis anos, conhece Henrique Canellas, espanhol, 27 anos, o qual deixara a terra natal, em plena efervescência de uma guerra civil.
Viera para o Brasil, como refugiado, já que na Espanha integrando, como Tenente, a Guarda do Rei, insurgira-se contra um superior hierárquico, quebrando a espada em sinal de rompimento e desafio. Condenado à morte por fuzilamento, foi salvo pela intervenção de companheiros de armas, que simularam a sua execução e , a seguir, facilitaram-lhe a fuga e o embarque, clandestino, em navio de demandava ao porto do Rio de Janeiro.
O porte altivo de revolucionário espanhol, mais a aura de heroísmo a dourar-lhe a biografia, impressionaram os olhos e o coração de Marieta, que aceitou a corte do galante e fardado motorneiro dos primeiros bondes elétricos a circular na cidade. Farda que, pouco depois, seria substituída pela da corporação de Polícia Militar do Paraná, na qual Henrique ingressou.
O enlace matrimonial teve lugar em Curitiba, com ato civil oficiado na residência da noiva, - a nova casa da família, na rua América, 114 - às 17:30h do dia 10 de julho de 1920.
O enlevo dos primeiros tempos, acentua-se com o nascimento do primogênito, Altevir José, - o Tito - em 1921.
Pouco depois, em 1923, é dada à luz a filha Lourdes, que a fatalidade, contudo, fez com que vivesse brevemente, vindo a falecer aos dois anos de idade, deixando apenas a imagem registrada em fotografia e um vazio imenso nos corações de Marieta e Henrique.
Outro menino, ainda, resultou dessa união, o caçula Antonio - até hoje, Antoninho... - que veio ao mundo em 24 de março de 1924.
Ágil, rápida e precoce, - como sempre foi ao longo da vida- a 11 de julho de 1929, um dia após completar o 9º aniversário de casamento, Maria Francisca, a irmã que chegou por último...é a primeira a partir! Aos 26 anos, recém cumpridos.
A vitimá-la,  - nos termos de laudo exarado pelo Dr Victor do Amaral Filho, da Maternidade do Paraná - irreversível crise de "eclampsia puerperal", moléstia que acomete parturientes, com alto índice de letalidade.
Acidente de percurso a atingi-la quando a exercer, pela quarta vez, a sublime missão da maternidade... Parto gemelar, em que os nascituros também pereceram.
Após larga e sofrida ausência, Marieta, levando consigo os frutos de sua derradeira tentativa, vai reencontrar a mãe Maria e a filha Lourdes - companhias que tão pouco desfrutara - ao lado das quais repousa, no jazigo familiar...

Deixou a vida, para tornar-se imortal e existir, para sempre, na lembrança e na saudade...

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